"A vagina dela é como os olhos dela?", "Ela tem uma vagina de boas-vindas do Oriente?", "Como ela geme?" "Ela é defeituosa"
São frases cruéis das quais eu nunca vou me esquecer, vinda de "homens" próximos a uma pessoa com a qual me relacionei um dia. Se eu soubesse que ouviria tudo isso, nunca iria querer tê-lo conhecido. Não era pra eu saber nenhuma delas. Mas, por mais que doa muito, que tenha dilascerado a minha alma, ainda bem que eu sei. Agora eu sei o que eu sou e sempre fui para eles (e para muitos outros): nada. Ou, no máximo, uma coisa. Mas vamos por partes:
Quem disse a primeira frase foi o tio do meu ex. O "homem" deve ter mais de 40 anos e, se ainda fala este tipo de coisa, percebe-se o nível moral do indivíduo. Um "homem" de mais de 40 anos se comportando como um adolescente de 14 anos. No caso, meu ex só respondeu "hahaha" por mensagem, como se não soubesse o que mais responder. Parecia confuso, na verdade. Não percebeu que seu tio estava me vendo como uma coisa, um objeto de ridicularização e deboche.
Quem disse a segunda frase foi um "amigo" do meu ex. Se é pra ter amigos assim, pra que inimigos, né? Nesta, ele até ficou bravo. Dava pra ver pelo ser semblante mas, foi omisso também. Bom, foi o jeito dele reagir: fazer nada. Eu já sou um pouco diferente...
Quem disse a terceira frase foi outro amigo do meu ex, que, por sinal, namora minha amiga. Este foi o que mais me feriu. Por que? Ora, porque ele é namorado da minha amiga e amigo do meu companheiro, na época. Não é uma pessoa randômica da internet, aquele tio super zoado ou um amigo randômico. Existe aí uma relação indireta. Mas, foi muita inocência minha esperar coisas como consideração e respeito. Com a frase dita ele não só me desrespeitou como, também, minha amiga e o amigo dele. Fui desrespeitada pelo meu gênero e pela minha etnia, minha origem (mas até então, todos os que disseram tais frases). Se eu fosse ocidental, branca, ele não iria perguntar tal coisa. Afinal, ele "jaá sabe", né? Eu chamo isso de racismo mesmo. Não vamos negar.
No final das contas, eu fiquei muito mal. Muito mal mesmo. Ao sair na rua, fiquei tensa por meses quando via um grupo de homens passando por mim e rindo. Imaginava se eles estavam pensando estas mesmas coisas sobre mim. Isso tudo, pegou na minha auto-estima, na minha dignidade, na minha segurança como indivíduo. Foi assédio moral com um plus de racismo puro. Para eles, muito provavelmente, é "tudo frescura minha" e eu sou uma "exagerada". Aquele gaslight básico. Tão clichê que até cansa. Muito fácil falar isso quando você não é o prejudicado, que passa por este tipo de agressão psicológica. Quando você não é quem ouve "Japinha gostosa te comeria agora" quando passa na rua ou cospem na sua mala porque você é de outra etnia. Fácil falar quando você é o privilegiado em todos os aspectos socias por ser homem e por ser branco, porque a sociedade foi feita para você. Eu nunca passei de um "puppet" para eles. "Não é nada pessoal" ouvi também. "Não é", mas é. Como desrespeitar meu gênero e minha etnia não é pessoal? E não é só por mim, é pelas outras mulheres. Asiáticas, negras, árabes, indígenas... todas, TODAS. Não somos bonecas com um coração sem ritmo para foder, que gemem para satisfezer os homens. Nunca fomos. Somos seres humanos. Pena que muitos não nos enxergam dessa forma... jaá passou da hora de mudar esta merda.
Segue o link de uma obra de Marina Abramovic, artista peformática renomada. Infelizmente não consegui incluir neste post mas vale muito a pena dar uma olhada.
https://vimeo.com/71952791
Segue o link de uma obra de Marina Abramovic, artista peformática renomada. Infelizmente não consegui incluir neste post mas vale muito a pena dar uma olhada.
https://vimeo.com/71952791
"Eu comecei a me mexer, comecei a ser eu mesma porque eu era apenas uma boneca para eles e, naquele momento, todos saíram correndo. As pessoas não puderam me confrontar sendo eu, uma pessoa." - Marina Abramovic
Então, para quem quer saber "se a vagina de uma mulher asiática é como seus olhos", "se a vagina de uma mulher asiática é uma "vagina de boas-vindas do Oriente"" ou "como uma mulher asiática geme", recomendo: conheça uma, conquiste uma. Saiba quem ela é, saiba a história dela, reconheça os sacrifícios que ela fará por você. Valorize-a pelos seus valores pessoais e não a julgue ou condene pela sua vida sexual. Conheça os pais dela (saiba que ela tem pais, tem família, irmãos...). Humanize-a. Aí sim, depois de um tempo juntos, você vai descobrir quem ela é de verdade e, ocasionalmente, tirará todas as suas dúvidas sobre as frases cruéis mensionadas. E, por saber, agora, que ela é uma pessoa, um ser humano, duvido que você queira que seus amigos saibam da vida íntima de vocês, do corpo dela, que não é um objeto. Você finalmente vai descobrir que ela possui um coração, que tem... ritmo.
Creio também no condicionamento ao qual as pessoas são sujeitas. Tenho observado mais as crianças estes tempos, são como esponjas... se estes "homens" disseram tais coisas, não veio do nada. Ex nihilo nihil fit (Nada vem do nada). Eles foram ensinados a pensar assim e não tiveram a mínima capacidade de reflexão, bom senso e respeito para medirem suas palavras. Uma vez, por curiosidade, fui pesquisar a biografia de Hitler. Bom, não foi ele quem inventou o anti-semitismo. Ele aprendeu o anti-semitismo. Com professores, com o ambiente. A misoginia e o racismo não são diferentes. Foram ensinados há milênios atrás. Desconstruir isso não é fácil. Claro que não é. Mas é por isso também que estou aqui, escrevendo. Já passou da hora de sermos respeitadas. Quem sabe, com a internet, a mídia, etc. eles mesmos não se educam um pouquinho? Quem sabe com o feminismo em voga alguma mulher perto deles comece a perceber como ela é vista de forma diferente e tente conscientizá-los também? Quem sabe o tio de 40 anos chegue aos 60 anos pensando diferente? Quem sabe os rapazes de 20 e poucos anos, cheguem aos 40 menos machistas? Quem sabe podem criar seus filhos e filhas de forma igualitária e cooperativa? Quem sabe ensinem-os a respeitarem o sexo oposto e outras etnias que não sejam a sua própria? Quem sabe podem ensiná-los a não discriminarem ninguém seja por qual motivo for? Quem sabe... nesta ou nas próximas vidas.
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