Ouve-se muito o termo "vitimismo". Eu acho desgradável. Seria, nas entrelinhas "Você está se fazendo de vítima". É invalidar, diminuir a dor do outro. Mas... e se a pessoa realmente for? Dizem muito isso para negros, gays, mulheres, pessoas trans... as minorias. Mas... pensando bem... será mesmo que a vida deles sempre foi um mar de rosas e eles "só reclamam"?
Eu duvido.
E mesmo o que chamamos de "homem branco cis hetero" (ok, eles realmente são o que descrevi, não estou sendo irônica ou sarcástica) sendo as pessoas "no topo da escala", quem disse que não sofreram em algum momento de suas vidas? (ok, eu acho que alguns, não - geralmente os caras do bullying hipermimados pelos pais - Mas outros, sim). Eu nunca diria que a dor de uma pessoa assim é "vitimismo" porque ele "não pode ser vítima". Também é. Tenho amigos que sofreram bullying. Por estarem acima do peso, por serem tímidos, por serem "os nerds"... isso afetou muito a auto-estima deles. Eu percebia... Eu nunca diminuiria a dor de nenhum deles porque estão no "topo da escala". Mas o problema, é quando eles diminuem sua dor, ao invés de empatizar com você... Não sou muito fã do "Pelo menos". Evito usar ao máximo.
Assim como meu amigo gay ouvia de mães de amiguinhos de infância: "Não quero que meu filho ande com este menino. Ele é estranho." Sofreu bullying no colegial e ainda corre risco de apanhar na rua hoje em dia devido a sua orientação sexual. Como ousaria chamar ele de vitimista? Como?
Eu não tenho nenhum amigo negro mas quando vejo os vídeos de pessoas negras na internet (atletas, por exemplo) chorando depois de ouvirem coisas tão pesadas, insultantes, humilhantes, como não me comover? Por que choram? Porque... não estão sendo vistos nem como seres humanos... não estão sendo respeitados. Sua dignidade e auto-estima estão destruídas... e... porque? Talvez porque foram vistos como "ruins", "inferiores" desde a tenra infância. Sem contar a pressão por serem atletas. E isso vai juntando... de grão em grão... como não se ofender com tantas coisas cruéis proferidas de graça, por "gente" que nem se dá ao trabalho de vê-los e conhecê-los como pessoas, como semelhantes?
Também não conheço nenhuma pessoa trans mas imagino como deve ser nem poder existir para sociedade... são vistos como "aberrações", "coisas"... recebem olhares de nojo... a única experiência que tive com pessoas trans foi quando fui para a Tailândia. Era um show de mulheres trans. Ao final, podíamos tirar foto com elas. O guia nos orientou (pra mim, na verdade, nos educou também): "Por favor... se vocês não quiserem tirar foto com elas tudo bem... mas não as olhem com discriminação e nojo... isso as fere muito. Elas também são pessoas... sabem... elas vivem em péssimas condições de vida. Às vezes, precisam comer apenas miojo porque não tem dinheiro para comprar comida. Então... por favor... respeitem. Elas são pessoas."
Mulheres... ah... tantas histórias, tantos abusos... perto de mim. Parentes, amigas... Abusos físicos, abusos psicológicos... vou até deixar para outro post para relatar algumas histórias... "Vitimistas"...
Eu não sou a favor da pessoa ser dissimulada e usar sua condição para obter vantagens, tirar proveito dos outros ou prejudicá-los. Isso, é ser cuzão/cuzona mesmo, independentemente de quem for. E aí vai da índole, do caráter da pessoa também.
Mas, muitas vezes, achamos "exagero" a reação de uma pessoa em x situação. Para o outro, pode parecer exagero porque ele não está na pele de quem está sofrendo... vai saber o que esta pessoa já passou? O que ela ouviu? Desde quando, por quem? Talvez até pelos seus familiares. Isso tudo... não vem do nada... "Ex nihilo, nihil fit" (Nada vem do nada). Ao invés de chamarmos a pessoa de "vitimista" por que não tentar entendê-la? Por que não tentar criar um elo, uma conexão para conhecê-la melhor e orientá-la? Talvez ela mesma não perceba que não está sendo empática com os outros, que talvez os outros não tinham intenção de prejudicá-la, que foi um acidente, por exemplo. Pessoas com traumas gerados desde muito tempo tem memória de situações ruins acumuladas. Por isso, precisam ser defensivas para evitar que este sentimento ruim de insegurança e impotência volte. Está tudo muito ligado à auto-estima também que, por causa de pequenos traumas, micro agressões sofridos durante a vida inteira, se tornaram algo muito, muito maior... bom, eu aprendi com meus amigos frases que podem ajudar alguém que está sofrendo:
"Eu sinto muito que você tenha passado por isso."
"Você tem todo meu apoio."
"Eu não sei exatamente como é a dor que você está sentindo mas me coloco no seu lugar e tento imaginar... eu sinto muito que você esteja passando por isso."
Um trauma, uma insegurança enorme gerada depois de uma agressão física ou psicológica não é algo que sara tão rápido. Se agressões físicas demoram para sarar, psicológicas às vezes perduram por anos ou nunca saram. Então... que sejamos "agentes de cura"... por mais que não consigamos "curar" o outro 100%... a intenção já significa muito...
Nenhum comentário:
Postar um comentário